Um nervo periférico é um conjunto de fibras
nervosas envolvidas por tecido conjuntivo. Cada fibra nervosa é revestida
por uma camada de mielina, conhecida como bainha de mielina, produzida
pelas células de Schwann. Centenas a milhares de fibras nervosas formam um
nervo periférico1.
O tecido conjuntivo que reveste o nervo é conhecido como epineuro. Dentro do epineuro, as
fibras nervosas estão agrupadas em feixes que são revestidos pelo perineuro.
Finalmente, cada fibra nervosa é revestida pelo endoneuro1.
Dentro de cada nervo podem existir apenas fibras
motoras, apenas fibras sensoriais ou ambas. O corpo celular dos neurônios
motores localiza-se no corno anterior da medula e o corpo celular dos neurônios
sensoriais localiza-se no gânglio da raiz dorsal. Dependendo do nervo lesado,
sintomas motores, sensoriais ou mistos podem ocorrer1.
A estrutura do nervo se deve basicamente por:
a) Bainha: tecido fibroso que envolve todo o
nervo e contém sua camada vasa nervorum.
b) Epineuro: tecido conjuntivo que envolve o
nervo como um todo interiormente à bainha.
c) Perineuro: camada mesotelial fina e densa que
envolve cada feixe de funículos nervosos.
d) Endoneuro: tecido conjuntivo que emoldura o
interior do funículo nervoso; ele separa cada fibra nervosa.
e) Célula de Schwan com membrana basal.
f) Axônio: prolongamento fino, mais longo que os
dendritos, cuja função é transmitir para outras células impulsos nervosos
provenientes do corpo celular.
Fonte: Guyton, Arthur C.,Tratado de Fisiologia
Médica
Classificação
Segundo Herbert Seddon (1943), as lesões nervosas
são classificadas em três grupos, que indicam seu nível de gravidade:
neuropraxia, axoniotmese e neurotmese1.
a) Neuropraxia é uma lesão onde
ocorre alteração da bainha de mielina, sem perda da continuidade do nervo, não
ocorrendo à degeneração deste, onde seu mecanismo de lesão pode ocorrer por
contusão ou compressão.
b) Axoniotmese é mais grave que
a neuropraxia, onde este já apresenta interrupções tanto na bainha de mielina
quanto no axônio. Basicamente, ocorre a interrupção dos axônios, permanecendo
intacto o tecido conectivo que o rodeia e, portanto, sem perda da continuidade
no nervo. Clinicamente, existe uma perda completa da função nervosa, tanto
motora como sensitiva.
c) Neurotmese caracteriza-se
pela perda da continuidade anatômica do nervo produzida geralmente por secção
ou arrancamento do nervo, sendo a mais frequente e a mais grave das lesões
nervosas.
Fisiopatologia da lesão
A Neuropraxia resulta da compressão desde o
axoplasma (citoplasma do axônio) ao axoruo distal, promovendo uma anóxia local
dos axônios por compressão dos vasos sanguíneos. Ocorre um fenômeno de
adelgaçamento da fibra nervosa com desmielinização focal (diminuição
axoplasmática intensa e localizada). A condução nervosa se mantém preservada
acima e abaixo do local de lesão, não ocorrendo Degeneração Walleriana
(decomposição química da bainha de mielina em material lipídico e fragmentação
das neurofibrilas).
Uma vez removido o processo compressivo, ocorre
remielinização, reaparecendo a condução em dias ou semanas, com função nervosa
condutiva normal.
Na neuropraxia as lesões traumáticas do nervo são
mais leves. A alteração patológica presente é a desmielinização das fibras
nervosas. Este fenômeno leva à perda da condutividade, mas sem qualquer
degeneração de axônios. Clinicamente, pode haver paralisia matara completa na
região do nervo atingida com perda de sensibilidade ou não.
Alterações histológicas após as lesões dos
nervos periféricos
Os nervos periféricos podem se recuperar de três
diferentes maneiras, dependendo do mecanismo da injúria:
Na desmielinização segmentar, a camada de mielina
lesada se recompõe num processo chamado de remielinização. Esta é a forma mais rápida de recuperação, ocorrendo entre 2 e 12
semanas após a lesão1,5,11.
Nas lesões nervosas onde a continuidade dos
axônios é interrompida, parcial ou totalmente, ocorre degeneração axonal distal
à lesão, pois a comunicação com o corpo celular é interrompida. Isto inicia nos
primeiros minutos após a lesão. Após as primeiras 24 horas, esta degeneração já
é evidente e a destruição das bainhas de mielina se inicia. Após o terceiro dia
inicia-se a quebra da bainha de mielina que se torna mais evidente a partir do
quinto dia. Histologicamente, esse fenômeno é conhecido como câmaras de
digestão de mielina1,5,11.
Após lesão axonal ter ocorrido, inicia-se o
processo de regeneração do nervo. Esta regeneração se dará pelo menos após 3
semanas da lesão1,11.
Nas lesões axonais parciais ocorre um processo
conhecido como brotamento axonal, onde axônios vizinhos intactos passam a
inervar a área desnervada pela injúria. Este fenômeno demora de dois a seis
meses para ocorrer1,5,11.
Após uma lesão completa de um nervo periférico, a
regeneração das fibras proximais somente ocorre se houver preservação do corpo
celular, presente no corno anterior da medula para os axônios motores e no
gânglio da raiz dorsal para os axônios sensoriais. Esse processo ocorre numa velocidade de aproximadamente 1 mm por dia e
pode levar até 18 meses para se completar1.
A regeneração da lesão da porção superior do
plexo pode completar-se no prazo de 4 a 5 meses e entre 7 e 9 meses nas lesões
da porção inferior do plexo1.
Etiologia
Existem várias causas que podem provocar lesões
traumáticas nos nervos periféricos1,6:
- Incisão traumática (corte): A lesão do
nervo pode ser parcial ou total e é provocada por instrumento
cortante.
cortante.
- Compressão: Quando se associa a
isquemia, tem sido uma das etiologias frequentes.
- Tração: Frequentes nas lesões do plexo
braquial, Costuma ter o pior prognóstico.
- Lesão Química: Alguns ácidos.
- Lesão Térmica: Frio ou calor.
Sinais e sintomas de nervo lesad
A lesão nervosa aguda é caracterizada pela perda
de sua função normal.
Isso depende do tipo de nervo lesado, motor ou
sensorial, e do local da lesão.
O comprometimento da função muscular pode ser em
forma de fraqueza ou paralisia. A deficiência sensorial pode apresentar-se como
perda de sensações, sensações anormais (parestesia) ou dor. Alguns dos sintomas
podem se desenvolver muito mais tarde após a lesão, enquanto outros sintomas
podem se recuperar completamente em algumas horas1.
Diagnóstico
Do ponto de vista clínico, a história clínica é a
que sugere o tipo de lesão produzida sobre um determinado nervo (tração,
compressão / isquemia, etc.), embora seja necessário um cuidadoso e detalhado
exame neurológico, o qual pode ajudar a localizar a lesão1,6.
Idealmente, quando não há implicações
médico-legais no caso, opta-se pela realização do primeiro estudo
eletrofisiológico após 3 a 4 semanas da lesão e repetição do estudo após 1 mês
do estudo inicial1,6.
As explorações eletrofisiológicas podem indicar o
nível e tipo de lesão nervosa, distinguir entre lesões nervosas e musculares e,
sobretudo, seguir o processo de reinervação. Dentro das explorações
eletrofisiológicas, a Eletromiografia procura estudar as variações da atividade
elétrica das unidades motoras em repouso, durante a contração voluntária e em
resposta a estimulação elétrica do nervo motor1.
A Eletromiografia (EMG) realiza-se colocando um
elétrodo / agulha na massa muscular que se examina. O músculo normal, em estado
de repouso, não produz atividade elétrica espontânea, a menos que o relaxamento
seja insuficiente, porque as unidades motoras estão inativas. Como resposta a uma
contração mínima, produzem-se potenciais de ação débil, bifásicos ou
trifásicos1,6.
Estudos eletrofisiológicos seriados são
importantes no seguimento dos pacientes com lesões parciais e naqueles com
lesões totais reparados cirurgicamente. A EMG de agulha é muito mais útil que a
condução nervosa nestas circunstâncias. Diminuição da quantidade de potenciais
de desnervação ativa e surgimento dos potenciais de unidade motora polifásicos
e de pequena amplitude (potenciais nascentes) indicam sinais de regeneração
nervosa1,6.
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