Quem já não se surpreendeu com as imagens de ginastas
olímpicas se dobrando ao meio em suas piruetas acrobáticas, com os
contorcionistas circenses que parecem não ter coluna cervical ao colocar os pés
lado a lado das bochechas, ou mesmo com aquele tio engraçadinho que se dizia
mágico por contorcer pernas, braços e dedos como se fossem feitos de borracha?
Todos nós já suspiramos de aflição ao vê-los em ação, mas saiba que, na
verdade, não há truque algum envolvido, nem dor. Isso porque, além do sorriso
no rosto enquanto executam suas manobras, na maioria das vezes, o que eles têm
em comum é uma condição clínica chamada de frouxidão ligamentar.
Na literatura médica, a frouxidão está relacionada à chamada
de Síndrome de Ehlers-Danlos e descrita como uma doença genética relacionada à
síntese de colágeno, que causa hipermobilidade das articulações e algumas
outras alterações corporais. Pelo menos 13 tipos desta síndrome foram
identificados e os tipos são relacionados a distúrbios hereditários mais comuns
do tecido conjuntivo, podendo acometer diferentes articulações e se manifestar
em diferentes graus de severidade.
Entre os indicativos mais claros da síndrome estão:
- Hipermobilidade articular, como dobrar o punho e o polegar
até ao antebraço;
- Sinal de Gorlin, que é o ato de conseguir tocar no nariz com
a língua;
- Resistência à dor, o que explica os sorrisos diante das
supostamente dolorosas manobras;
- Hiperelasticidade da pele.
Diferentemente do que se pode pensar, essa grande amplitude
de movimentos não é um alongamento natural, ou algo positivo. Alterações
oculares, que comprometem a visão podem acometer quem sofre da síndrome e a
chance de gestantes terem partos prematuros também são aumentadas. Os
portadores da síndrome são mais propensos a sofrer lesões, como entorses e
rompimentos ligamentares, bem como desenvolver tendinites e bursites.
Com raras exceções, o tempo de vida das pessoas com síndrome
de Ehlers-Danlos é normal. Ela não tem cura, mas ter o diagnóstico da doença é
importante para prevenir e tratar precocemente suas complicações. Estabelecer
um plano de atividades físicas, com foco no fortalecimento das musculaturas que
envolvem as articulações afetadas, bem como evitar exercícios de alto impacto,
pode ajudar a reduzir o risco de lesões.
Assim, uma vez desenvolvida a propriocepção e o senso de
limites do corpo, quem tem frouxidão ligamentar pode ter uma vida normal. Se
seu objetivo não for se unir à trupe do Cirque du Soleil, ou algo parecido, o
portador da frouxidão vai acabar como todos nós, na corda bamba da vida,
encarando os desafios contemporâneos com as mesmas manobras e acrobacias que
precisamos fazer cotidianamente.
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