Resguardar o arcabouço do corpo humano e quebrar as
estatísticas de osteoporose que assustam o país: eis a bandeira levantada pela
Campanha Firme e Forte, iniciativa recémcriada por três sociedades médicas — a
Brasileira de Densitometria Clínica, a Brasileira para o Estudo do Metabolismo
Ósseo e Mineral e a Brasileira de Osteoporose —, com o apoio do Ministério da
Saúde, que pretende alertar e ajudar a população a prevenir a doença que
fragiliza a ossatura.
Basta ver alguns números para entender a magnitude do
problema e do projeto. Uma em cada três mulheres sofre de osteoporose, enquanto
um em cada cinco homens desenvolve o mal. No Brasil, todo ano ocorrem algo em
torno de 2,4 milhões de fraturas motivadas por essa condição. Pior: estima-se
que 75% dos diagnósticos são feitos só depois de um osso quebrado.
As projeções tampouco são animadoras, visto que
levantamentos recentes revelam que nove em cada dez brasileiras — e as
menopausadas formam o grupo de maior risco — não ingerem a recomendação diária
de cálcio, mineral crucial ao tecido ósseo. É um indício de que o leite e seus
derivados, os principais depósitos do nutriente, andam escassos à mesa — e olha
que tem muita gente excluindo os laticínios por razões sem um fundamento
científico.
Além disso, os níveis de vitamina D, aliada do esqueleto
obtida com a exposição ao sol, estão cinco vezes mais baixos que o preconizado.
É preciso mudar esse panorama, e isso também depende das atitudes de cada um.
"Nossa campanha quer mostrar que a prevenção começa mais cedo, quando o
indivíduo ainda é jovem", diz o ginecologista Bruno Muzzi, presidente da
Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica. A ideia de prevenção, aliás,
perpassa a vida inteira, já que, mesmo com o distúrbio detectado, seus danos
podem ser minimizados com atividade física, dieta e, se necessário, remédios.
"A osteoporose continua menos conhecida que doenças
como a pressão alta e o câncer. Temos de alterar esse cenário em que se
descobre o problema depois de fraturar um osso", avalia Suely Roitman,
presidente da Federação Nacional de Associações de Pacientes e de Combate à
Osteoporose. Só com informação, mudanças no estilo de vida, bem como
diagnóstico e tratamento precoces, dá para enfrentar a epidemia, que, segundo os
gráficos médicos, têm tudo para crescer se as pessoas permanecerem paradas.
Afinal, o que leva os ossos a fraquejarem? "O avançar
dos anos, a hereditariedade, o sedentarismo, o consumo inadequado de alguns
nutrientes e a menopausa precoce, no caso das mulheres, estão entre os
principais fatores de risco", enumera o ortopedista Sérgio Ragi, do Centro
de Diagnóstico e Pesquisa da Osteoporose do Espírito Santo. Repare que não dá
para anular todos os ingredientes dessa receita — ninguém é capaz de congelar o
tempo ou mudar os genes —, mas ajustar as contas com a alimentação e se
exercitar representam muito mais do que um bom começo. Tais hábitos, somados
aos banhos de sol e ao corte no álcool e no cigarro, ajudam a brecar a perda de
massa óssea que é natural do envelhecimento.
"O tecido do esqueleto é formado pra valer até a
terceira década de vida e fica estável até os 45 anos. A partir daí, há uma
redução de 0,5% da sua massa por ano", explica o reumatologista Cristiano
Zerbini, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A osteoporose, porém, acelera
esse fenômeno, chegando ao ponto de esburacar o osso, que, sem causar alarde,
fica sujeito a rachaduras e quebras num simples tombo. "O perigo é o fato
de a doença ser tão silenciosa. Por vezes a fratura é a sua primeira
manifestação", avisa a reumatologista Evelin Goldenberg, do Hospital
Israelita Albert Einstein, na capital paulista. O ideal, portanto, é agir e
defender fêmur, bacia e companhia antes que eles se mostrem fracos demais.
Quem descobre que o esqueleto já está ficando frágil — ou
até refém da osteoporose — deve evitar a cilada de pensar que o caminho não tem
volta. Felizmente, existem estratégias farmacológicas que, somadas aos hábitos
listados nas páginas anteriores, promovem uma saudável reforma na ossatura, ou
melhor, colaboram para que ela volte a ficar resistente e dura na queda. Antes
de tudo, é importante rastrear se não há outra doença patrocinando o
enfraquecimento ósseo. "Males como artrite reumatoide, tumores e
disfunções da tireoide podem estar associados à osteoporose", lembra
Evelin Goldenberg.
O diagnóstico do problema ou da fase que o antecede, a
osteopenia, se vale de um exame, a densitometria óssea — ela também é
requisitada durante o tratamento. Dosagens hormonais e de vitamina D também podem
ser solicitadas para investigar fatores por trás da doença. Essa sondagem ajuda
a formular o melhor plano de obras para proteger o esqueleto. Lembre-se: a
ideia de prevenir persiste mesmo com a osteoporose instalada, já que é possível
paralisar ou atenuar a destruição da massa óssea.
Essa empreitada demanda, muitas vezes, a suplementação de
cálcio e vitamina D, que costuma ser receitada mesmo antes de a enfermidade
aparecer. Com a idade, as cápsulas ganham importância porque fica mais difícil
atingir as doses do mineral de forma natural. Agora, se o mal começa a roer o
suporte do corpo, os médicos também partem para os remédios. "Num primeiro
momento, lançamos mão de drogas que bloqueiam a reabsorção óssea e, se o
problema evolui, há as que estimulam a formação de osso", diz Marcelo
Pinheiro. Um novo medicamento deve chegar ao Brasil nos próximos meses e há
materiais promissores que poderão ser incorporados ao canteiro terapêutico
contra a encrenca. No entanto, ninguém precisa esperar eles chegarem para se
mexer. Seu esqueleto depende de um bom mestre de obras: que seja você.
O que fazer para reduzir o risco de osteoporose- A atividade física
"Os exercícios de impacto, como trote e corrida, e a
musculação disparam descargas elétricas que ativam as células formadoras de
osso", explica o reumatologista Marcelo Pinheiro, da Universidade Federal
de São Paulo. Além deles, vale a pena investir em modalidades que trabalhem o
equilíbrio, a postura e a flexibilidade. Na presença de osteoporose, evite
exercícios que envolvam a torção da cintura, abdominais, cargas pesadas e
treinos extravagantes.
- A dieta ideal
"Os adultos devem ingerir mil miligramas de cálcio por
dia, o que equivale a quatro porções de leite e derivados. Já os idosos precisam
de cinco", calcula a nutricionista Lígia Martini, da Universidade de São
Paulo. Deve-se maneirar no chocolate e no café, assim como no sal, porque eles
elevam a eliminação de cálcio. E o mesmo se aplica ao fósforo, abundante em
produtos industrializados, porque compete com ele. Por fim, vale investir no
ômega-3, gordura dos peixes que estimula a fábrica de osso.
- Menos álcool e sem cigarro
Abusar das bebidas é prejudicial por diversos motivos.
"O álcool pode danificar a absorção de cálcio no intestino e tem um efeito
tóxico sobre as células construtoras de osso", pontua Marcelo Pinheiro.
"Já o tabagismo acelera, entre outras coisas, o processo de morte
programada dessas células", diz.
- Os banhos de sol
Quinze minutos diários, com braços e pernas expostos sem
protetor solar, é o tempo indicado para receber a cota de vitamina D — 10
microgramas —, substância essencial à absorção de cálcio. Ela aparece em doses
menores nos laticínios e nos peixes. Hoje há leites e iogurtes enriquecidos com
cálcio e vitamina D, boa opção para cumprir as metas.
- Cuidado com remédios
- Cuidado com remédios
O uso crônico ou indiscriminado de certos medicamentos, como
corticoides, hormônios artificiais e anticonvulsionantes, aumenta o risco de
danos irreversíveis ao esqueleto. Tanto médico quanto paciente devem ficar
atentos.
Por dentro do esqueleto
Como ele se comporta e pode sofrer com os anos
- Tecido ativo
- Tecido ativo
Há células que formam osso e outras que o reabsorvem. As
primeiras produzem as vigas onde se deposita o cimento de cálcio.
- Poupança óssea
Por volta dos 20 anos há o pico de massa óssea, que se
consolida até os 30. Ela fica estável até os 45 e, a partir de então, passa a
diminuir.
- A osteopenia
Ela precede a osteoporose. O esqueleto de algumas pessoas
sofre um desequilíbrio que leva à perda de osso.
- A osteoporose
Agora a redução da massa óssea se intensifica e, se um
tratamento demorar para ser convocado, os ossos se enfraquecem a ponto de se
esburacar.
- No canteiro de obras
Drogas e suplementos que combatem o quebra-quebra
- Cápsulas de cálcio
Nem sempre é fácil cumprir a recomendação diária do mineral
— mil miligramas para adultos e 1 200 para idosos —, e o envelhecimento
atrapalha sua absorção. Assim, por vezes se opta pelas cápsulas, que podem ser
conciliadas com os alimentos — o cálcio deles, diga-se, é mais bem aproveitado.
- Gotas de vitamina D
Com os anos, o corpo perde parte da capacidade de sintetizar
essa substância. Para driblar essa dificuldade e corrigir o déficit da
vitamina, pode-se receitar o suplemento. A meta é alcançar 10 microgramas se a
pessoa está com os ossos sãos ou 20 se tem a doença.
- Reposição hormonal
Com a menopausa e o corte no estrogênio, o esqueleto da
mulher perde um leal protetor. Uma das funções do hormônio é trabalhar pela
manutenção da massa óssea. Por isso, a reposição pode ser indicada, entre
outros motivos, para resguardar a integridade dos ossos.
- Os medicamentos específicos
Diante da doença, os médicos costumam somar à suplementação
os remédios que atuam diretamente no tecido ósseo. Eles se dividem em duas
classes: os que bloqueiam as células que destroem o osso e os que instigam suas
unidades formadoras. Há desde comprimidos diários até injeções anuais.
A densitometria óssea
É o exame que bate o martelo sobre o diagnóstico da osteoporose. "Ele costuma ser pedido às mulheres no período da menopausa e aos homens na casa dos 65 ou 70 anos", diz a reumatologista Vera Szjenfeld, da Universidade Federal de São Paulo. É claro que, na presença de sintomas ou fatores de risco, ele deve entrar em cena mais cedo. Por meio de raios x, o aparelho mede a densidade dos ossos, geralmente os da coluna e o fêmur. "Também recorremos a ele para acompanhar o tratamento", diz Vera.
É o exame que bate o martelo sobre o diagnóstico da osteoporose. "Ele costuma ser pedido às mulheres no período da menopausa e aos homens na casa dos 65 ou 70 anos", diz a reumatologista Vera Szjenfeld, da Universidade Federal de São Paulo. É claro que, na presença de sintomas ou fatores de risco, ele deve entrar em cena mais cedo. Por meio de raios x, o aparelho mede a densidade dos ossos, geralmente os da coluna e o fêmur. "Também recorremos a ele para acompanhar o tratamento", diz Vera.
Os homens e a
osteoporose
Embora o mal dos ossos frágeis seja mais comum entre as mulheres, ele não poupa a ala masculina. "A perda de massa óssea é mais lenta entre os homens, mas pode ser acelerada por um déficit nos níveis de testosterona", explica Evelin Goldenberg. Aliás, não pense que os machos são muito mais resistentes aos efeitos da osteoporose. "Quando quebram o quadril, eles morrem mais que as mulheres", diz a médica.
Embora o mal dos ossos frágeis seja mais comum entre as mulheres, ele não poupa a ala masculina. "A perda de massa óssea é mais lenta entre os homens, mas pode ser acelerada por um déficit nos níveis de testosterona", explica Evelin Goldenberg. Aliás, não pense que os machos são muito mais resistentes aos efeitos da osteoporose. "Quando quebram o quadril, eles morrem mais que as mulheres", diz a médica.
Fonte: Site Revista Saúde!
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