Mochila pesada, muitas horas no sofá em frente à TV, má postura na carteira da escola. O resultado não poderia ser diferente: seu filho reclama de dor nas costas. O problema, assim como outros que fazem parte da vida moderna, já não é mais exclusividade dos adultos – e a incidência entre os pequenos só aumenta. “Antigamente a dor nas costas era sinal de algo mais grave, como alguma infecção, e costumava deixar os pediatras preocupados”, diz a reumatologista Margarida Fernandes Carvalho, presidente do Departamento de Reumatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Hoje, a reclamação é mais comum, mas sabemos que a maioria é de origem muscular.
As crianças, principalmente as de centros urbanos, têm rotina de gente grande: passam mais tempo sentadas, são sedentárias e até obesas. Isso prejudica a musculatura abdominal e das costas”, explica. Não é à toa que estudos realizados em diferentes países nos últimos anos mostram que até 70% das crianças e adolescentes já se queixaram um dia de dor nas costas (nos adultos com até 50 anos, a incidência é de 80%).
As crianças, principalmente as de centros urbanos, têm rotina de gente grande: passam mais tempo sentadas, são sedentárias e até obesas. Isso prejudica a musculatura abdominal e das costas”, explica. Não é à toa que estudos realizados em diferentes países nos últimos anos mostram que até 70% das crianças e adolescentes já se queixaram um dia de dor nas costas (nos adultos com até 50 anos, a incidência é de 80%).
A solução seria, então, investir em atividades físicas? Nem tanto. Como tudo o que é demais faz mal, se o seu filho pratica diversos esportes também pode sofrer com o sintoma. O mesmo acontece se tiver a agenda cheia. Isso porque o excesso de exercícios físicos e o estresse sobrecarregam a musculatura, provocando a dor nas costas. A boa notícia é que, em geral, na infância, o problema é mais fácil de tratar e, principalmente, de evitar. Veja como encontrar esse equilíbrio a seguir.
A causa da dor
A distensão e a tensão dos músculos são os motivos mais frequentes para a queixa do seu filho. Ele pode reclamar de dor tanto depois de um dia intenso de brincadeiras como após uma longa partida de videogame. A obesidade também é um fator de risco, pois o acúmulo de gordura na região lombar influencia a postura, além de sobrecarregar a coluna. E a mochila é uma das grandes vilãs (veja quadro na página a seguir). Outros fatores menos comuns são infecções (nos rins, pulmões ou vértebras), anormalidades da coluna, como escoliose (desvio à direita ou à esquerda) ou espondiolise (malformação da última vértebra lombar), artrite juvenil (inflamação nas articulações) e tumores.
O peso da idade
A não ser em caso de certas doenças, antes dos 5 anos é raro a criança reclamar de dor nas costas, pois as articulações e a musculatura ainda não sofreram qualquer desgaste. Por isso, é importante prestar atenção também à postura infantil. Nas fases em que ocorrem os chamados estirões de crescimento (aos 2, 7 e 14 anos), alterações como a escoliose, que nem sempre causam dor, ficam mais evidentes.
Ir ao médico nem sempre é preciso
Antes de marcar uma consulta com o pediatra, tente lembrar como foi o dia do seu filho: ele correu muito? Machucou-se enquanto jogava futebol? Ficou muitas horas em frente à TV? Nesses casos, é provável que a dor desapareça sozinha. Mas, se a queixa for constante, avise o médico. Ele vai fazer uma análise física e, se achar necessário, solicitar exames de imagem, como radiografias, ou de sangue. É importante ficar atento também se aparecerem outros sintomas, como febre e apatia, que podem indicar algo mais grave e, por isso, devem ser investigados com urgência.
Caso de família
Sim, há evidências que mostram que certos tipos de doenças relacionadas à coluna e que causam dor são hereditárias. Uma pesquisa realizada com gêmeos adultos pela Universidade de Tel Aviv, em Israel, sugere que os não idênticos (que compartilham apenas metade do código genético) têm três vezes mais chance de sofrer dessa dor se o irmão também sofre. No caso dos idênticos, o risco aumenta para seis (saiba mais sobre doenças genéticas na reportagem especial de capa). Apesar de o estudo ter sido feito com adultos, se houver histórico de problemas de coluna na sua família é preciso avisar o pediatra.
Trava no pescoço
O torcicolo provocado por “mau jeito”, como acontece com os adultos, é raro na infância porque as crianças são mais flexíveis (no entanto, existe um tipo que é congênito: uma malformação muscular que “entorta” o pescoço para um dos lados e pode ser corrigida com fisioterapia desde os primeiros meses de vida ou cirurgia). Vale lembrar que o uso de travesseiro só é recomendado a partir do primeiro ano de vida por causa do risco de sufocamento. E, independentemente do material com que for fabricado, o ideal é que ele mantenha coluna, pescoço e cabeça alinhados quando a criança estiver deitada de lado.
Alívio para os sintomas
Quando a dor nas costas do seu filho for de causa muscular, o pediatra pode indicar compressas quentes, relaxantes musculares e analgésicos. Ele também vai dar orientações sobre a postura correta e indicar exercícios para alongar e fortalecer os músculos, que podem ser acompanhados por um fisioterapeuta ou professor de Educação Física. Já as dores causadas por doença mais graves, que vão de infecções a alterações na coluna, vão ser tratadas com antibióticos, anti-inflamatórios ou cirurgias corretivas, de acordo com a origem do problema.
Como proteger seu filho
Desde os primeiros anos de vida, a criança tem de aprender a cuidar da postura. Ao pegar algo no chão, por exemplo, ensine-a a dobrar os joelhos e não as costas. Para sentar, seja no sofá, na cadeira ou na carteira da escola, a coluna tem de ficar reta e as coxas, paralelas ao chão. Compromissos demais além da escola podem “roubar” o tempo que o seu filho tem para brincar – e descansar também. Isso sem falar na pressão que uma agenda de adulto pode trazer. O hábito de praticar esportes tem de começar na infância. Um estudo dinamarquês feito com crianças de 9 anos mostrou que aquelas que praticavam atividades físicas regularmente tinham menos chance de sofrer de dores nas costas aos 12.
Fonte: Revista Crescer
Nenhum comentário:
Postar um comentário