Para quem lida com pessoas fisicamente ativas, sabe que as
lesões musculares são a causa mais frequente de incapacidade física na prática
esportiva. Estima-se que 30 a 50% de todas as lesões associadas ao esporte são
causadas por lesões de tecidos moles.
Os estiramentos musculares são tipicamente observados nos
músculos superficiais que trabalham cruzando duas articulações, como os
músculos reto femoral, semitendíneo e gastrocnêmio.
Os músculos biarticulares têm velocidade de contração e
capacidade para mudança de comprimento maiores, contudo, menor capacidade de
suportar tensão.
Estiramentos e contusões leves (grau I) representam uma
lesão de apenas algumas fibras musculares com pequeno edema e desconforto,
acompanhadas de nenhuma ou mínima perda de força e restrição de movimentos.
Não é possível palpar-se qualquer defeito muscular durante a
contração muscular. Apesar de a dor não causar incapacidade funcional
significativa, a manutenção do atleta em atividade não é recomendada devido ao
grande risco de aumentar a extensão da lesão
Estiramentos e contusões moderadas (grau II) provocam um
dano maior ao músculo com evidente perda de função (habilidade para contrair).
É possível palpar-se um pequeno defeito muscular, ou gap, no sítio da lesão, e
ocorre a formação de um discreto hematoma local com eventual ecmose dentro de
dois a três dias. A evolução para a cicatrização costuma durar de duas a três
semanas e, ao redor de um mês, o paciente pode retornar à atividade física de
forma lenta e cuidadosa.
Uma lesão estendendo-se por toda a sessão transversa do
músculo e resultando em virtualmente completa perda de função muscular e dor
intensa é determinada como estiramento ou contusão grave (grau III). A falha na
estrutura muscular é evidente, e a equimose costuma ser extensa, situando-se
muitas vezes distante ao local da ruptura. O tempo de cicatrização desta lesão
varia de quatro a seis semanas. Este tipo de lesão necessita de reabilitação
intensa e por períodos longos de até três a quatro meses. O paciente pode
permanecer com algum grau de dor por meses após a ocorrência e tratamento da
lesão.
O diagnóstico da lesão muscular inicia-se com uma história
clínica detalhada do trauma, seguida por um exame físico com a inspeção e
palpação dos músculos envolvidos, assim como os testes de função com e sem
resistência externa. O diagnóstico é fácil quando uma típica história de
contusão muscular é acompanhada por um evidente edema ou uma equimose distal à
lesão.
Em termos de tratamento a mobilização precoce induz a um
aumento da vascularização local na área da lesão, melhor regeneração das fibras
musculares e melhor paralelismo entre a orientação das miofibrilas regeneradas
em comparação à restrição do movimento.
Fase aguda
O tratamento imediato para a lesão do músculo esquelético ou
qualquer tecido de partes moles é conhecido como princípio PRICE (Proteção,
Repouso, Gelo ou Ice, Compressão e Elevação). A justificativa do uso do
princípio PRICE é por ele ser muito prático, visto que as cinco medidas clamam
por minimizar o sangramento do sítio da lesão.
Colocando-se o membro lesionado em repouso logo após o
trauma, previne-se uma retração muscular tardia ou formação de um gap muscular
maior por se reduzir o tamanho do hematoma e, subsequentemente, o tamanho do
tecido conectivo cicatricial. Com relação ao uso do gelo, mostrou-se que o uso
precoce de crioterapia está associado a um hematoma significativamente menor no
gap das fibras musculares rompidas, menor inflamação e regeneração acelerada
De acordo com os conhecimentos atuais, é recomendada a
combinação do uso de gelo e compressão por turnos de 15 a 20 minutos, repetidos
entre intervalos de 30 a 60 minutos, visto que este tipo de protocolo resulta
em 3° a 7°C de decaimento da temperatura intramuscular e a 50% de redução do
fluxo sanguíneo intramuscular
Finalmente, a elevação do membro acima do nível do coração
resulta na diminuição da pressão hidrostática, reduzindo o acúmulo de líquido
no espaço intersticial.
Tratamento pós-fase aguda
1. Treinamento isométrico (ie. contração muscular em que o
comprimento do músculo se mantém constante e a tensão muda) pode ser iniciado
sem o uso de pesos e posteriormente com o acréscimo deles. Especial atenção
deve ser tomada para garantir que todos os exercícios isométricos sejam
realizados sem dor.
2. Treinamento isotônico (ie. contração muscular em que o
tamanho do músculo muda e a tensão se mantém) pode ser iniciado quando o treino
isométrico for realizado sem dor com cargas resistidas.
3. O exercício isocinético com carga mínima pode ser
iniciado uma vez que os dois exercícios anteriores sejam realizados sem dor.
A compreensão dos mecanismos fisiopatológicos que regulam a
reparação muscular e sua adaptação ao treinamento físico são essenciais para o
profissional que se propõe a tratar destes pacientes. São a base para o
desenvolvimento dos meios de prevenção de lesões e para o tratamento adequado e
reabilitação das lesões instaladas.
A respeito do tempo apropriado de retorno ao treino
específico para o esporte, a decisão pode ser baseada em duas simples e pouco
onerosas medidas: a habilidade de alongar o músculo lesionado tanto quanto o
lado contralateral sadio, e ausência da dor no músculo lesionado em movimentos
básicos.
Quando o paciente refere alcançar este ponto na recuperação,
a permissão de se iniciar gradualmente os exercícios específicos para o esporte
é garantida.
Contudo, sempre deve ser enfatizado que a fase final de
reabilitação deve ser realizada sob supervisão de profissional capacitado.
Fonte: Fisioterapia&Reabilitação
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