Sim. Mas teria um problema. Os laboratórios de medicamentos iriam ganhar alguns milhões a menos porque as pessoas não iriam mais comprar os analgésicos sintéticos e nem os medicamentos para controlar náuseas, vômitos, sonolência e constipação freqüentemente associados ao uso prolongado. Será que é por isso que esse segredo não é tão divulgado?
O abuso de analgésicos
No dia 23 de junho de 2011, o estudo da ONU apontou uso abusivo de analgésicos no Brasil. A produção e o abuso de opióides (analgésicos) prescritos aumentaram, assim como o uso dessas substâncias sem prescrição médica. Normalmente são indicadas para dores fortes relacionadas ou não com câncer e após de algumas intervenções cirúrgicas.
Os riscos do excesso de analgésicos
O risco principal dos sintéticos é o seu uso não controlado. O ideal é estar recebendo monitoramento médico. Mas mesmo assim, principalmente para o uso crônico, apresenta muitos efeitos colaterais como: constipação, náuseas, vômitos e sedação. Por conta disso muitos pacientes (cerca de 20% das pessoas), que recebem prescrição desses medicamentos, são obrigados a parar esse tratamento medicamentoso. Dessa forma ficam sem opção de medicamentos para aliviarem suas dores. Além disso, as pessoas que usam os medicamentos baseados em opióides por tempo prolongado apresentam dependência e tolerância.
Dependência e tolerância
O que é dependência?
Estudos já demonstraram que os opioides perdem seu efeito após uso prolongado e isso é chamado de tolerância. Dessa forma a pessoa tende a usar mais o medicamento para conseguir seus efeitos. Quando o paciente esta acostumado usar o medicamento e para de uma só vez, apresenta abstinência e isso caracteriza a dependência.
O que é tolerância?
Alguns poucos pacientes apresentam um comportamento excessivo para conseguir a medicação, não para analgesia, mas para conseguirem efeitos de sedação e sonolência por exemplo.
Analgésicos naturais
Imagine se você tivesse o controle de liberar analgésicos por si só, como um botão de rádio, capaz de regular a liberação de opióides. As pessoas com dor persistente ou crônica iriam se beneficiar muito com isso, não é?
Mas teria um problema...
Os laboratórios de medicamentos deixariam de ganhar alguns milhões porque as pessoas não iriam mais comprar os analgésicos sintéticos e nem os medicamentos para controlar os efeitos colaterais adversos citados acima. Será que é por isso que esse “segredo” em produzir opióides por si próprio não é tão ensinado?
O nosso próprio sistema nervoso é capaz de produzir e liberar substâncias opióides capazes de aliviar a dor. Ao longo da nossa evolução desenvolvemos esse mecanismo porque nos ajudou sobreviver. Quando um atleta tem uma lesão no meio de uma final de campeonato quase não sente a dor. Da mesma forma quando um animal está ferido e vê um predador correndo em sua direção. Ele começa a correr como se não estivesse sentindo nada. Esses são exemplos de produção e liberação rápida de opioides por uma situação de estresse específica. A dor e a lesão por si só ativa um mecanismo de liberação de opióides para evitar que a dor seja ainda maior.
Grande parte das terapias que visam aliviar a dor, dão uma “mãozinha” para nós mesmos produzir esses analgésicos. A vantagem disso é que não existem efeitos colaterais adversos.
Maneiras que você pode produzir essas substâncias:
- Exercícios físicos aeróbicos e anaeróbicos regulares e com intensidade adequada para cada um já demonstraram reduzir a sensibilidade à dor pela produção e liberação de opióides. No entanto sabemos que a maneira que a atividade física é realizada pode aumentar a sobrecarga. Quando isso acontece o efeito da liberação de opióides não serve para nada. Talvez sirva somente para camuflara dor durante a atividade e piorar depois. Por isso a combinação entre todos os elementos que podem ser vistos na “cidade da sobrecarga” e os benefícios bioquímicos da atividade física que determinam o efeito real.
- Expectativa de melhora. Quando acreditamos na melhora podemos produzir e liberar opióides e assim reduzir a dor. Um exemplo claro disso é o efeito placebo.Várias pesquisas mostram pessoas que apresentam expectativa maiores quanto ao tratamento, tendem a obter melhores resultados. E o interessante é que isso acontece na maioria das intervenções terapeuticas para dor. Então tanto a pessoa pode elevar sua expectativa como é dever do profissional ter a capacidade de aumentar a expectativa do cliente sem deixar de ser realista (para não causar frustração).
- Uma dor adicional às vezes pode induzir o funcionamento de circuitos neurais que liberam opióides adicionais em regiões onde a informação da dor passa antes de chegar à percepção. Exemplo disso terapia de moxabustão...
- Quando estamos em um estado de entusiasmo, liberamos opióides que tendem a reduzir a dor e causar bem-estar. Quando você chega em casa e encontra muitas pessoas na sua frente contando parabéns, a famosa festa surpresa você libera uma cascata de opióides endógenos. Talvez você lembre com o que você pode ficar entusiasmado. Quem sabe fazendo uma atividade que você gosta. É bom saber que no final do dia eu vou sair do trabalho e fazer aquela atividade que me dá prazer.
- Desenvolver atitudes, motivações e percepções em relação a si mesmo e à dor, mais favoráveis para a melhora. Sabe-se que estratégias hipnóticas por exemplo reduz a dor, pelo menos em parte pela liberação das substancias opioides produzidas pelo próprio corpo.
Existem várias formas de regular a quantidade de substâncias que influenciam nosso estado emocional e perceptual diário. Atuar no tratamento e na prevenção da dor é atuar no TODO sabendo das PRIORIDADES a cada momento.
Fonte: Blog Mapa da Dor - por: Rodrigo Rizzo
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