Em 2004, recebi exatos R$ 460,00 de salário como fisioterapeuta no meu primeiro e único emprego formal na área, o que cobria os gastos com combustível e ainda sobrava uns trocados para o sorvete do final de semana. A clínica trabalhava em parceria com o SUS e eu atendia de 20-25 pacientes neurológicos, recém saídos do período de internação, a cada turno de 6 horas de trabalho, posto este rotativo porque ninguém queria ficar lá por muito tempo por motivos óbvios.
Outro sistema de remuneração muito comum era o da “porcentagem”, diz-se da participação do profissional nos ganhos decorrentes da prestação de assistência em Fisioterapia oferecida ao público por terceiros, pessoas físicas ou jurídicas, vinculados ou não aos planos de saúde. No primeiro caso, o pagamento por cada sessão executada correspondia à parte do valor em referência na Tabela AMB, pouco expressivo, ainda sim partilhado em três: “contratante”, “contratada” e impostos. Natural que desta conta não restasse muito para as partes envolvidas, logo, que a quantia recebida na qualidade de rendimento fosse aquem do desejável.
Com o tempo, batalhas e anseios da categoria, o piso salarial subiu gradativamente, atingindo o patamar de R$ 2432,72 em 2015. Se compararmos com a primeira referência que consignei no primeiro parágrafo deste texto, estamos ganhando pelo menos cinco vezes mais, porém o arranjo do mercado de trabalho na fisioterapia se modificou , porque a estrutura de gastos das empresas não estava preparada para absorver maiores custos com contratações formais de fisioterapeutas, reduzindo a probabilidade de nascimento de novas relações deste tipo ou a manutenção da informalidade devido ao passivo trabalhista cada vez mais alto.
A autonomia surge nesse cenário com alternativa atraente para aqueles em busca de maiores ganhos, bem como do desenvolvimento do trabalho sob perspectivas terapêuticas mais resolutivas, uma vez que pacientes informados são mais exigentes a respeito da qualidade da assistência. Dessa forma, surge o DESAFIO para transformar o modelo vigente em novas formas de organização dos serviços de Fisioterapia, ou seja, mudar “do que está” para “o que pode ser”, a considerar que se o fisioterapeuta foi ou é mau remunerado é porque se tornou refém do sistema de faturamento no qual ele produz, mas não gerencia.
Houve quem questionasse se os chefes de setores de Fisioterapia são realmente qualificados para a função, preparados para liderar equipes e dinamizar o funcionamento do serviço. E você, fisioterapeuta, possui habilidades e treinamento nesse sentido? Sem pessoas com esse perfil continuaremos escorados nos médicos ou evoluindo sozinhos a passos de formiga, quando deveríamos investir para melhor planejar e organizar as ações da nossa profissão, conferindo outra cultura organizacional a nossa categoria.
Fonte: NovaFisio
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