James Gallagher, repórter de saúde da BBC News escreveu sobre um artigo, que você confere abaixo, intitulado “Expectativa de paciente pode potencializar ou neutralizar analgésico”publicado recentemente na revista Sci Transl Med em 2011.
Pesquisa
Uma pesquisa recém-divulgada sugere que as expectativas de pacientes podem tanto potencializar os efeitos de um analgésico como neutralizá-los por completo. Pesquisadores britânicos e alemães aplicaram calor nos pés de 22 pacientes, que em seguida tiveram de quantificar o grau de dor sentida em uma escala de 0 a 100.
Simultaneamente, os pacientes eram submetidos a um escâner cerebral, que exibia as condições das diferentes regiões do cérebro enquanto os testes eram realizados. Após a aplicação do calor, o nível médio de dor sinalizado por eles foi de 66.
Os pacientes que estavam também conectados a um dispositivo intravenoso pelo qual poderiam receber doses de medicamentos sem ser informados, recebiam, então, um poderoso analgésico chamado remifentanil. Depois disso, eles passaram a sinalizar 55 como sendo seu índice de dor.
Os pesquisadores informaram-nos, em seguida, que eles estavam sendo medicados com um analgésico, e a nota dada por eles caiu para 39.
Então, mantendo a mesma dose, eles foram informados de que a aplicação do analgésico havia sido suspensa e que eles provavelmente sentiriam dor. Com isso, a nota subiu para 64.
Portanto, apesar de eles estarem recebendo remifentanil, relataram estar sentindo o mesmo nível de dor indicado quando não estavam recebendo qualquer analgésico.
Comentário
A expectativa positiva ou negativa em relação ao resultado da intervenção terapêutica influencia seu efeito analgésico. É mais uma informação para provar que são as nossas condições internas que determinam o efeito dos agentes externos. Esse artigo demonstrou que a expectativa influencia o efeito analgésico de medicamentos. No entanto a expectativa pode interferir em qualquer intervenção terapêutica não só os medicamentosos. A expectativa interfere nas técnicas de terapia manual, eletroterapia, no calor, gelo, psicoterapias, hipnose e em todas as outras. As intervenções terapêuticas apresentam melhores efeitos para o alivio da dor em duas condições internas: 1- quando estamos livres de informações que podem impedir o mecanismo analgésico da intervenção; 2- quando recebemos ou criamos informações que favorecem ou complementam o mecanismo analgésico da intervenção.
Chuva das informações positivas
Agora, eu faço uma pergunta: Quais são as informações que podem influenciar o efeito analgésico do medicamento ou de qualquer intervenção?
Bom, existem dois tipos de informações: uma externa (que vem de fora) e a outra interna (que vem da própria pessoa).
Existe uma farmácia pequena perto da minha casa e toda vez que compro o remédio lá melhoro rapidamente. Quando decido comprar em outro lugar, mesmo sendo o mesmo remédio parece que não é a mesma coisa. Quando compro o remédio em outro local, às vezes volto a comprar o mesmo remédio na farmácia do Luizinho porque não obtenho a melhora esperada da gripe.
O farmacêutico Luizinho sempre pergunta o que eu estou sentindo e afirma: “Esse realmente é o remédio certo”. Explica como o remédio age no meu corpo e diz em quanto tempo estarei me sentindo melhor. Ele costuma escrever na caixa do medicamento os horários que devo tomar e nunca me deixa sair da farmácia sem tomar o primeiro comprimido lá mesmo.
Não é à toa que eu melhoro muito mais rápido e que ele faz o maior sucesso na região. Chamo isso de chuva de informações positivas que levam meu sistema nervoso trabalhar a favor do efeito analgésico da intervenção. A chuva de informações positivas que o Luizinho criou ampliou minha expectativa de melhora sem mesmo eu ter consciência disso. Esperto esse Luizinho!
Chuva das informações negativas
No entanto se você vai a um médico com dor na coluna. Ele pede um exame e simplesmente diz: “Você tem hérnia de disco”. Ou para piorar, além disso, ele faz uma expressão de “a casa caiu” e diz: “sua coluna está bem ruim, hem! Você tem uma hérnia de disco!” Depois disso escreve o nome do remédio com aquela letra “bonita” e a consulta está finalizada.
Finalizada para ele, porque desse jeito e com essas informações negativas, você vai procurar outras estratégias de tratamento porque sua dor não melhora. Como você vai para outro profissional procurar ajuda, o primeiro médico não sabe que você ainda está com dor. Ou pior ainda ele acha que você melhorou porque não voltou mais e dessa forma continua agindo da mesma maneira com os outros pacientes.
Esse é um tipo comum de ignorância em relação ao tratamento de uma dor. Como é mostrado no “mapa da dor”, você recebeu uma “chuva de informações negativas” que tende a manter ou piorar o seu estado atual de dor. Além disso, por conta da informação nada clara sobre o seu problema, a ansiedade aparece. Você não sabe a gravidade do problema e se essa situação vai mudar. Então além de você ter recebido informações negativas, você mesmo produz uma “enxurrada de informações negativas” tais como: “acho que é um problema sério mesmo; estou sentindo dor então minha lesão está aumentando; tenho hérnia de disco”!
Isso é mais freqüente do que pensamos. Pesquisadores do Hospital da Santa casa de São Paulo fizeram perguntas para os pacientes logo depois de uma consulta e chegaram a conclusão que cerca de 40% dos pacientes sentiram que não receberam a informação clara sobre seu problema. Eu levanto uma questão: Será que as pessoas que não receberam explicações claras sobre o problema tendem a permanecer por mais tempo com a dor? Será que tais dúvidas favorecem a transição de uma dor aguda para uma dor crônica e persistente? Particularmente acredito que sim.
A boa notícia
A boa notícia é: você não precisa depender sempre de informações externas. Entenda e exija dos profissionais explicações que te mantenha mais tranqüilo.
O profissional de saúde precisa aprender e aprimorar como criar um ambiente interno favorável para o paciente receber a intervenção terapêutica com maiores possibilidades de melhora. Chamo isso de modulação da expectativa ou a capacidade de regular a “chuva” de informações internas e externas que afetam o paciente.
Fonte: Rodrigo Rizzo. Portal Mapa da Dor
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