sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Atuação da Fisioterapia em Cirurgia para Obesidade Mórbida


A obesidade mórbida é definida como o excesso de peso, de 45 kg ou mais em relação ao peso ideal do indivíduo. Atualmente é considerada pela medicina como uma doença crônica, porém nem sempre foi assim ; isto começou a mudar após os médicos constatarem que a obesidade mórbida levava a sérios comprometimentos de saúde

Esta doença diminui a qualidade e a expectativa de vida, sendo assim, foi determinado um limite, este é baseado pelo “índice de massa corpórea” acima de 40 kg/m2 (obesidade mórbida).

A obesidade mórbida pode apresentar complicações cardiovasculares, ortopédicas, digestivas, endócrinas, dermatológicas, problemas sociais, psicológicos e também complicações respiratórias como falta de ar ao menor esforço, dificuldade respiratória durante o sono, ocasionando uma fadiga crônica e apnéia do sono.

Quando o tratamento clínico não funciona mais, e quando o índice de massa corpórea encontra-se ideal para realização da cirurgia, é utilizado o procedimento de gastroplastia, ou seja, uma cirurgia para redução do estômago.

A fisioterapia respiratória atua junto com o serviço de cirurgia para obesidade mórbida, desde o internamento do paciente até a sua alta hospitalar, em 03 fases:

1ª Fase – Pré-operatória, conhecendo o paciente, seu peso atual, suas condições pulmonares, se é tabagista ou possui doença pulmonar, observando seu Raio X, oximetria (oxigenação do sangue), prova de função pulmonar e orientando quanto ao pós-operatório imediato.

2ª Fase –Pós-Operatório Imediato: Atua também no centro cirúrgico, onde freqüentemente quando o paciente possui peso acima de 200 kg, e apnéia do sono, há necessidade de acompanhamento da fisioterapia respiratória minutos após a gastroplastia, com a utilização de VPPI e BiPAP (não invasivo), para manter uma ventilação e expansão adequada após extubação, poupando um esforço desnecessário na musculatura respiratória do paciente, mantendo assim parâmetros ideais de gasometria, evitando possíveis distúrbios como derrame pleural, atelectasias e acúmulos de secreções brônquicas.

3ª Fase – Após acompanhamento no centro cirúrgico com o paciente no quarto, no mesmo dia da cirurgia, inicia-se técnicas específicas como ventilação por pressão positiva intermitente, inspirometria de incentivo e técnicas motoras como exercícios de membros inferiores para prevenção de trombose venosa profunda, marcha estacionária e deambulação leve no quarto.

1º pós-operatório – são realizados exercícios respiratórios com padrões ventilatórios adequados e deambulação no corredor do hospital;

2º pós-operatório – mantém-se a mesma conduta anterior e orienta-se o paciente quanto a alta hospitalar, que normalmente acontece neste dia, ou seja, o mesmo permanece desde o internamento até sua alta hospitalar, que em média é de 02 à 03 dias.

Portanto, é de extrema importância o acompanhamento da fisioterapia respiratória no pré trans e pós-operatório. Assim como a equipe multidisciplinar, para que o paciente obtenha total sucesso na cirurgia de obesidade mórbida.

Cyriax: Massagem transversa profunda


A massagem transversa profunda foi criada nos anos 30 e 50 pelo Dr. Cyriax que certificou-se que os distúrbios das partes moles do corpo eram diagnósticada de maneiras diferentes de um médico para outro.

As lesões que afetam as estruturas ósseas envolvem um tipo diferente de diagnóstico. Cyriax abadonou a cirurgia ortopédica e se dedicou ao estudo dos músculos e dos tecidos moles. Desenvolveu um novo método que consiste em recolher um diagnóstico preciso do paciente, a realização de uma análise aprofundada funcional e, no final na palpação das estruturas do corpo. O seu método inclui: massagem profunda, infiltração e manipulação das articulações periféricas.

O que é a massagem transversa profunda?

A Massagem Cyriax ou transversa profunda é um tipo de massagem que é baseada em: massagem profunda, infiltração e manipulação chegando ao local da dor e da lesaõ, evitando as áreas circundantes do tecido saudável.

Permite o tratamento de lesões dos músculos, ligamentos e tendões com o objetivo de restaurar ou manter a elasticidade e mobilidade dos tecidos.

Esta massagem pode tratar uma zona bem limitada e localizada, agindo sobre a estrutura anatômica afetada da inflamação pós-traumática ou sobre as aderências.

Geralmente, este tratamento é feito em 15 minutos, duas ou três vezes por semana.

É claro que o tratamento deve ser precedido por um exame cuidadoso para obter uma avaliação global da situação clínica do doente.

Na preparação para o tratamento, o exame começa com a identificação do local em que será realizada a manipulação.

Eles são destinados a permitir o movimento sem dor, a sua finalidade não é de restaurar a amplitude de movimento completa dado que a osteofitose torna isso impossível.

Muitas manipulações vertebrais são realizadas através da manutenção de um componente de tração.

Para que serve a massagem transversa profunda?

O propósito deste tratamento é o de manter ou restabelecer a mobilidade normal e a elasticidade dos tecidos, permite de tratar apenas a área selecionada sem intervir sobre as partes do tecido saudável .

A principal indicação é para o tratamento de tendiniteepicondilitepubalgiatendinite do ombro, etc.

Este tratamento também serve para:1. Bloquear a formação de tecido cicatricial fibroso, evitando a criação de aderências entre as várias fibrilas.2. Reduzir temporariamente a dor e estabilizar o fluxo de metabolitos estimulando a hiperemia local.3. Reposicionar as fibras de colágeno em sua posição inicial (antes da lesão), organizando os feixes musculares na maneira mais correta para dar uma resposta adequada a estímulos mecânicos.4. Enviar estímulos para os mecano-receptores para interferir com as mensagens aferentes nociceptivos que viajam na direcção do cérebro.5. Evitar que o tecido fibroso danificado crie uma inflamaçãoque se auto-alimenta.6. Ajudar a formação de uma cicatrização funcional e forte.7. Através do movimento da estrutura anatómica em questão, deve prevenir ou quebrar aderências formadas como resultado de uma lesão do tecido.

As únicas contra-indicações são:

  • Grande calcificações de tecidos moles.
  • As lesões ao nível do tendão de origem reumatóide.
Como vem aplicada a massagem transversa profunda?

O massagem Cyriax funciona com uma técnica manual particular sob uma estrutura anatômica bastante limitada e localizada que sofre de um fenômeno inflamatório ou pós-traumático ou com aderências.

Aplicação prática:

1. O fisioterapeuta coloca o dedo, o cotovelo ou somente as pontas dos dedos sobre a área afetada e pratica um movimento (pressão e flexão) perpendicular em direção das fibras que formam a estrutura em causa, quebrando ou inibino a formação de aderências do tecido cicatricial (cross-links);

2. Esta massagem provoca um aumento da hiperemia local, aumentando assim a taxa de eliminação de substâncias inflamatórias;
3. A forte estimulação dos mecano-receptores inibe a transmissão da dor (Gate Control).
Existem diferentes tipos de massagem: aqueles clássicos com fricção perpendicular é de grande importância, também existem o massagem com fricção círcular. Trata-se em segurar o tendão afetado entre o polegar e o indicador aplicando pressão com um movimento circular.

Com esta técnica é possível encontrar um “caroço” ou até mesmo pontos em que o tendão é mais sensível.

Com a manipulação com fricção circular podemos evitar que se forma uma inflamação no tecido fibroso que está danificado e se auto-alimenta.

Portanto, o objetivo é o de ajudar à formação de uma cicatrização funcional.

Identificado o ponto doloroso, é aplicado um movimento de massagem “vai e vem” com a ponta do dedo indicador apoiado pelo dedo médio, sempre em direção perpendicular a orientação das fibras feridas.

É importante não causar fricção sobre a pele durante a execução do tratamento.

É fundamental encontrar a área da pele onde existem queloides, segurar e mobilizar os movimentos opostos sob a pele com as mãos.


Esta técnica é utilizada em primeiro lugar porque é necessário preparar a área afetada pela massagem criando as melhores condições. Deve atingir uma boa viscosidade ao tecido e criar uma hiperemia discreta para a execução da segunda parte do tratamento.


Halliwick na Fisioterapia Infantil



É na brincadeira que as crianças reaprendem a andar e a movimentar partes do corpo. Isso sem a preocupação de exercícios forçados e dolorosos.

Com o conceito Halliwick, a fisioterapia infantil ganhou ar de brincadeira e diversão. Não existe mais choradeira ou negação na hora dos exercícios. Eles são tão agradáveis que a criança com problemas de empatia não sente que aquela brincadeira pode devolver-lhe os movimentos perdidos. É na água onde tudo começa: no útero materno não existe força gravitacional e ao nascer o bebê consegue se mover contra a força da gravidade somente após algum tempo, o que indica que a água é meio ideal para se aprender ou reaprender movimentos com maior facilidade.

A hidroterapia pediátrica está indicada nos casos em que haja alterações de coordenação, perda de equilíbrio, perda de movimentos ou de atividades musculares por enfraquecimento ou paralisia, e por contraturas que comprometam o processo de reabilitação. A criança em meio aquático encontra-se em constante situação de estímulo e aprendizagem. Devido à redução de peso corporal provocada pela força do empuxo (flutuação), os movimentos na água se tornam mais fáceis. Sendo assim, é possível realizar movimentos maiores e melhores, muitas vezes impossíveis de serem realizados fora d'água.

O que torna tudo isso possível é a forma como os exercícios são realizados, sempre através de jogos e brincadeiras dentro da água. È muito mais prazeroso para a criança, que já sofre por ter algum problema físico e/ou neurológico, brincar em vez de fazer horas de cansativos exercícios.

Com essa técnica somente o fisioterapeuta tem condições de avaliar cada movimento do paciente e corrigir, sem que a criança perceba, pois a terapia está disfarçada. Os resultados positivos são muito significativos, em relação ao tratamento realizado somente com fisioterapia convencional.

O tratamento é todo feito dentro da água aquecida a uma temperatura de 34º C. Assim, os tecidos mais internos do corpo ficam completamente relaxados, possibilitando um trabalho perfeito, com respostas rápidas obtidas na água. O corpo humano é capaz de movimentos e proezas maravilhosas. A criança que utiliza aparelhos para locomoção pode ter a oportunidade única para desfrutar de total liberdade de movimentos, sentindo-se completamente segura.

O efeito da flutuação, associado ao conceito Halliwick, é elemento valioso na recuperação de paciente, cujos músculos e articulações não suportam seu próprio peso. Os exercícios de transferências do peso e a marcha, devido ao corpo estar parcialmente imerso, são facilitados, tendo em vista que o peso (carga) diminui em até 90%.

O conceito Halliwick trabalha tanto o lado físico quanto o emocional, já que a criança muitas vezes não sabe que é capaz de realizar certas tarefas e com isso sublima suas habilidades. A capacidade de realizar habilidades funcionais mais avançadas e mover-se mais independentemente oferece benefícios psicológicos, incluindo motivação e autoconfiança. A criança tem a possibilidade de explorar ao máximo o seu potencial.


Fonte: Faça Fisioterapia

Exercícios simples estimulam o desenvolvimento de bebês com microcefalia


O pequeno João Miguel está entre o mundo dos sonhos e a realidade, abrindo os olhos a cada momento em que Cynthia estica um bracinho seu ou dobra uma perninha sua. Ao lado dele está Maria Vitória. Ambos têm 4 meses de idade e estão instalados em um chão colorido e emborrachado ao lado das mães. Maria Vitória está com outro humor: enquanto o colega dorme, ela choraminga sempre que Cynthia a coloca de bruços, na sala cheia de brinquedos espalhados.

Esse seria um cenário comum e os gestos seriam corriqueiros em qualquer creche do país, por exemplo, não fosse o fato de Cynthia ser fisioterapeuta e da sala estar localizada na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), no Recife. As crianças têm microcefalia e os movimentos feitos pela fisioterapeuta são, na verdade, um estímulo precoce importante ao desenvolvimento integral dos pequenos pacientes.

Os casos da malformação neurológica aumentaram no Brasil desde o ano passado, em especial em Pernambuco – estado com maior número de notificações de microcefalia (1.846 casos, dos quais 490 descartados, de acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde). Para a comunidade científica, há cada vez mais indícios da relação entre a microcefalia e os casos de vírus Zika em gestantes. Outros problemas ligados ao sistema nervoso do bebê em formação também são estudados e já se fala em síndrome congênita do Zika, vírus transmitido pelo Aesdes aegypti.

Diante desse cenário, assim que nascem, essas crianças iniciam uma rotina de exames para determinar que tipo de malformação elas têm, qual o nível de comprometimento do cérebro, da visão, da audição, entre outros. Além disso, os bebês diagnosticados ou com suspeita de microcefalia são submetidos desde os primeiros meses de vida a intervenções de várias áreas, como fisioterapia, fonoaudiologia, otorrinolaringologia e oftalmologia. Trata-se de uma geração que cresce dividida entre a casa e o consultório médico.

Os dois pequenos companheiros de fisioterapia foram encaminhados pelo Sistema Único de Saúdea para acompanhamento na AACD. Maria Vitória e João Miguel estão em fases ligeiramente diferentes: a menina já fez algumas sessões e o garoto participava da primeira atividade na associação no dia em que a Agência Brasil foi até o local. João Miguel fazia acompanhamento em Caruaru, mas a mãe, Ana Paula de Souza Silva, de 30 anos, preferiu levá-lo à capital pernambucana para continuar a terapia.

Tímida, a agricultora Ana Paula ouve com atenção os relatos de outras mães e tem muitas dúvidas: sobre espasmos, movimentos diferentes, exercícios. A troca de informações entre as mães é um ponto forte da terapia de grupo: “à medida que uma chega mais fragilizada, outra já está observando um ganho no desenvolvimento do filho, porque está seguindo as orientações. Uma ajuda a outra e assim se fortalecem”, diz a fisioterapeuta Cynthia Ximenes.

Exercícios simples

Para começar a sessão, a fisioterapeuta coloca os bebês em almofadas adaptadas para os exercícios: trata-se de calças jeans preenchidas com sacolas, retalhos e papel, que são amarradas ou costuradas nas extremidades. Uma ferramenta simples, mas que é um dos principais apoios para a condução da fisioterapia com os bebês e, principalmente, que pode ser recriada em casa pelas mães, como ensina e recomenda e profissional.

“Tudo o que a gente faz aqui a gente demonstra para as mães porque é muito importante essa continuidade [do tratamento] em casa e essa parceria entre família e terapia é de extrema importância para o desenvolvimento deles. Aqui nós focamos nos alongamentos, pois são bebês que, por conta da alteração neurológica, apresentam aumento de tônus muscular, então são muito durinhos”, explica Cynthia.

Iara Oliveira Gonçalves, de 23 anos, mãe de Maria Vitória, já tem a almofada-calça em casa. A avó da bebê costurou de presente. Iara se esforça para colocar em prática diariamente cada ensinamento passado pelos médicos. “Para o estímulo visual eu aprendi a colocar coisas coloridas. Por exemplo, pegar uma mamadeira e enfeitar para ela brincar, procurar brinquedinho que faça barulho, colorido, para colocar na frente dela e ver se ela vai acompanhar a visão ou não. Colocar para fazer exercício, colocar ela apoiada na almofada-calça que ensinaram a gente a fazer, que é para ajudar, estimular, botar ela sentadinha, emborcada, ver como vai ter força para segurar o pescocinho, ir se desenvolvendo mais”, diz a ex-manicure, que agora se dedica exclusivamente à filha.

Assim como os objetos usados na fisioterapia, os exercícios também são simples e replicáveis pela família. “A gente ensina as mães como alongar as mãos, as pernas, os braços, os pés, como fazer os exercícios em casa e principalmente proporcionar às crianças as variações de postura durante o dia”, ensina Cynthia. Quem já viu técnicas complexas para a recuperação de atletas ou acidentados pode estranhar, mas a terapia deve acompanhar a idade do paciente, segundo a profissional: “lógico que um bebê de um mês, dois meses a gente não vai colocar para rolar, para sentar, porque nenhum bebê nessa idade está nesta etapa motora. Mas esses posicionamentos são muito importantes lá na frente, para que a gente possar continuar com outros exercícios respeitando a idade e o tempo de cada criança”.

Desafios e benefícios

A esses primeiros estímulos em recém-nascidos dá-se o nome de estimulação precoce. A técnica é usada com qualquer criança que apresente fatores de risco, como bebês prematuros, e não apenas os microcéfalos. “A gente começa com a intervenção em uma criança que você sabe que tem risco de ter um problema neurológico antes que apareça. A microcefalia é um sinal, não uma alteração no exame neurológico de força, movimento, desenvolvimento”, diz a neuropediatra Vanessa Van der Linden, gerente médica da AACD. “Ayrton Senna foi um piloto exemplar. Por quê? Ele começou a treinar, treinar e ele usou o potencial dele muito mais do que o pouquinho que a gente usa. A reabilitação é baseada nisso, para desenvolver ao máximo essas conexões que façam com que uma área [do cérebro] ajude a função da outra, porque ela está lesada”.

De acordo com Vanessa, os primeiros encontros com a mãe e o bebê são de diagnóstico, para avaliar as dificuldades e traçar objetivos. “O cérebro controla tudo o que a gente faz. Desde respiração e deglutição, a harmonia do movimento que a gente tem que ter, então dependendo da lesão cerebral relacionada com Zika você pode ter desde alteração visual, alterações neurológicas relacionadas com contato visual, com distúrbio de deglutição. Uma criança que engasga muito e não consegue se alimentar direito pode ter pneumonia e desnutrição”, explica.

Segundo a neuropediatra, cada caso deve ser analisado separadamente, já que as malformações de crianças infectadas pelo vírus Zika são bem variadas – um dos mistérios investigados pelos pesquisadores, inclusive Vanessa. “Tenho pacientes muito graves e outros menos graves. Então a gente vê crianças que tem interação boa, sorriso, que presta atenção, isso já mostra que a criança tem interação com o que está acontecendo com o mundo. Outras estão alheias. Mas o melhor significa o quê? A gente não sabe ainda. É uma doença que está sendo escrita, e temos que acompanhar [os bebês] pelo menos até os dois anos para tentar definir as principais alterações que se vê em crianças desse tipo”, afirma.

Por isso, é importante um acompanhamento atento para verificar, com o tempo e a partir de exames neurológicos, quais os comprometimentos de cada criança. “Lembro que tinha mãe que falava: 'mas doutora, só tem a cabeça pequena'. No entanto, à medida que você necessita que o cérebro comece a comandar e organizar, aí cadê?”, questiona. “Normalmente a gente começa a notar isso com três meses. Dois meses é para [a criança] olhar e não olha direito. É pra sustentar o pescoço com três para quatro meses e não sustenta. Com quatro meses é para começar a usar a mão, e cadê que não usa?”, exemplifica Vanessa.

A neuropediatra deixa claro, no entanto, que a reabilitação não significa cura das complicações neurológicas. “Reabilitação estimula o potencial que o cérebro tem. A gente não trabalha com 100% do nosso potencial, a gente vai usando aquilo que é estimulado. Quem vai me ensinar que isso é um óculos? A vivência que eu tive, de um dia pegar, alguém mostrar, depois você não precisa nem pensar no significado das coisas”, diz. “A capacidade que o cérebro tem de aprender a gente chama de plasticidade neural. É o que vai fazer com que eu olhe e entenda tudo. Mas para isso você precisa vivenciar. Para uma criança que não tem problema, o ambiente de casa e da escola é suficiente para dar os estímulos necessários. Já para uma criança que tem dificuldade você precisa dar um estímulo bem maior para conseguir um resultado pequena”.

O grau de avanço é diferente dependendo do comprometimento do cérebro, mas mesmo em casos graves Vanessa confirma que é importante levar a sério a terapia. “Mesmo aquela criança muito grave que vai ter pouco desenvolvimento, se você trabalhar com reabilitação vai fazer com que diminua as complicações. Uma delas é deformidade. Uma criança que fica na mesma posição porque está toda durinha, se ela não for manuseada, trabalhada, acaba evoluindo para uma deformidade que agrava o quadro dela. Mesmo para aquela criança que tem pouco potencial, a gente consegue dar uma qualidade de vida melhor para ela”, esclarece.
Apesar de os resultados desse trabalho serem vistos, principalmente, a longo prazo, pequenas conquistas são comemoradas tanto pelas mães como pela fisioterapeuta Cynthia Ximenes. “Nós observamos evoluções a curto prazo. Em um encontro o pescoço estava muito molinho. A mão estava muito fechadinha e com os alongamentos vão abrindo um pouco mais”, exemplifica Cynthia.

Iara também cita, orgulhosa, os avanços observados na filha: “Antes ela não segurava muito bem... ainda não está totalmente segurando o pescoço, mas já vi que ela fica mais tempo com o pescoço levantado, fica brincando com a mão e o pezinho, e antes ela não fazia. Eu fico estimulando em casa, boto o dedo na mão dela, faço força para ela levantar. Já tô vendo que ela está ficando bem mais durinha”, comemora a mãe de Maria Vitória.